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Morre Mestre Damasceno, símbolo da cultura marajoara, aos 71 anos

Artista foi referência no carimbó, na poesia oral e nas tradições quilombolas do Marajó. Ele faleceu no Dia Municipal do Carimbó, em Belém, e será velado no Museu do Estado do Pará.

Morre Mestre Damasceno, símbolo da cultura marajoara, aos 71 anos
Reprodução

Damasceno Gregório dos Santos, o Mestre Damasceno, morreu na madrugada desta terça-feira (26), aos 71 anos, em Belém. A data de sua partida coincide com o Dia Municipal do Carimbó, expressão cultural à qual dedicou mais de cinco décadas de sua vida. A morte foi confirmada por familiares.

Internado desde 22 de junho, o artista marajoara enfrentava complicações de saúde agravadas por um diagnóstico recente de câncer em metástase nos pulmões, fígado e rins. Estava internado na UTI do Hospital Ophir Loyola, tratando também um quadro de pneumonia e insuficiência renal.

A importância de Mestre Damasceno para a cultura brasileira foi reconhecida nacionalmente. Em maio deste ano, ele recebeu a Ordem do Mérito Cultural, maior honraria concedida pelo Ministério da Cultura. Na ocasião, destacou sua trajetória ligada às raízes quilombolas e às manifestações do arquipélago do Marajó.

Natural da Comunidade Quilombola do Salvá, em Salvaterra (PA), Mestre Damasceno reinventou sua vida após perder a visão aos 19 anos, tornando-se referência no carimbó pau e corda, nas toadas, na poesia oral e na criação do Búfalo-Bumbá — manifestação junina que mistura teatro popular e elementos amazônicos. Foi também fundador do Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara e idealizador do Cortejo Carimbúfalo e do Festival de Boi-Bumbá de Salvaterra.

Com mais de 400 composições autorais e seis álbuns gravados, sua obra ganhou projeção nacional. Uma de suas músicas, "A mina é cocoriô!", foi samba-enredo da escola Grande Rio no carnaval de 2025, em homenagem ao estado do Pará.

Mestre Damasceno também foi homenageado na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, realizada entre 16 e 22 de agosto, em Belém. Durante o evento, foi lançada a obra “Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó”, de Antonio Carlos Pimentel Jr., voltada ao público infantojuvenil.

O governo do Pará decretou luto oficial. O velório está marcado para às 16h desta terça-feira (26), no Museu do Estado do Pará, em Belém. O Ministério da Cultura emitiu nota de pesar, destacando-o como uma "liderança inquestionável da cultura marajoara".